nas tábuas da parede o proprietário das terras as queimou um maçarico chamuscou tudo de preto depois de sete dias se elas voltarem ele queimará toda a casa o colchão e os panos
Tenho medo que veja a minha mancha eu a escondo sob a camisa às vezes ele me investiga com seus olhos de dono entre meus dedos unhas braço e pescoço mas não a vê ela é branca e eu sempre a belisco pra ver se ela acorda
Me disseram um dia: uma mancha assim nunca pode dormir.
Nárkissos
compacto meu iceberg de trevas pesa
mão perversa que estrangula e cala gestos e intenções
vigília de cegos paliada em véu de altar sou cativeiro das respostas engolidas
não há sombras lembranças de um sol posto em mim não há tocar meu breu é sorver o abismo possuir o charco
subverto as palavras ácidas pisando a madrugada madura nesse lagar sem mosto e pouco a pouco seduzo-te ao Lago Baykal e sem perceber desapareces na minha água escura
Quanta solidão há
Quanta solidão há naquela âncora enferrujada separada de sua nau fincada no fundo desse mar escuro
Quanta solidão há naquele menino sentado no alto do outeiro arremessando pedras sobre os vagões do trem que passa veloz
Quanto de mim há nesse mar que é despedida na escotilha suada ficando invisível na pesada âncora solta à deriva no galope seco do trem sobre os trilhos na pedra que corta o ar no punho que a lança
Quanto de mim permanece em mim depois da paisagem?
***
.
Vitória Terra nasceu em Maracajú, MS. É fundadora do Terra Franklin Advogados, especializada em filosofia do direito e em direito processual civil pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, Master Business Administration pela FGV, atuando como advogada em todo o território nacional há mais de trinta anos. Escritora e poeta, publicou e vem publicando poemas virtualmente, nas páginas Vitória Terra Poesia (Facebook) e vitoria_terra_poesia (Instagram).
Imagem: Foundry Co // Pixabay
Aquelas manchas verdes
nas tábuas da parede
o proprietário das terras
as queimou
um maçarico
chamuscou tudo de preto
depois de sete dias
se elas voltarem
ele queimará
toda a casa
o colchão e
os panos
Tenho medo
que veja a minha mancha
eu a escondo sob a camisa
às vezes ele me investiga
com seus olhos
de dono
entre meus dedos
unhas
braço e pescoço
mas não a vê
ela é branca
e eu sempre a belisco
pra ver se ela acorda
Me disseram um dia:
uma mancha assim
nunca pode dormir.
Nárkissos
compacto
meu iceberg
de trevas
pesa
mão perversa
que estrangula
e cala
gestos
e intenções
vigília de cegos
paliada em véu
de altar
sou cativeiro
das respostas
engolidas
não há
sombras
lembranças de um sol posto
em mim não há
tocar meu breu
é sorver o abismo
possuir o charco
subverto
as palavras ácidas
pisando a madrugada madura
nesse lagar sem mosto
e pouco a pouco
seduzo-te ao Lago Baykal
e sem perceber desapareces
na minha água escura
Quanta solidão há
Quanta solidão há
naquela âncora enferrujada
separada de sua nau
fincada no fundo desse mar escuro
Quanta solidão há
naquele menino sentado no alto do outeiro
arremessando pedras
sobre os vagões do trem que passa veloz
Quanto de mim há
nesse mar que é despedida
na escotilha suada ficando invisível
na pesada âncora solta à deriva
no galope seco do trem sobre os trilhos
na pedra que corta o ar
no punho que a lança
Quanto de mim
permanece em mim
depois da paisagem?
***
.
Vitória Terra nasceu em Maracajú, MS. É fundadora do Terra Franklin Advogados, especializada em filosofia do direito e em direito processual civil pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, Master Business Administration pela FGV, atuando como advogada em todo o território nacional há mais de trinta anos. Escritora e poeta, publicou e vem publicando poemas virtualmente, nas páginas Vitória Terra Poesia (Facebook) e vitoria_terra_poesia (Instagram).
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