Não vou guardar dores na cabeça. Dor é feita pra curar. E se cura com amor. Existe amor nos peitos inflamados. Amores mofados, partidos, sangrados. Mas, ainda assim, amor. Não aquele amor mesquinho, nada que acarinhe o ego. Aquele amor bonito de Senhoras do Sertão, aquele amor-benzinho que te reza sem te saber. Dor de cabeça aumenta e faz tumor. Amor é simples, mas com rótulo de raro na cabeça dos mecânicos. Não é mercadoria, nem mesquinharia. Também não é quebra-queixo. De doce e dura, basta a batida. Amor é mole. Pessoas endurecem.
*
Rotas
Maria perdeu-se no caminho Andou e procurou molhada Úmida estava a toalha Absorvendo a quentura do sol Deixe-me voltar e revirar, José Há muita trouxa pra lavar Nenhum tecido me encontra a face Desconstruir a frase balbuciada é Competência dificílima a quem falta amor Moro no morro, nas costas do Redentor E, no entanto, desencontro os ares grã-finos Conformam-me os fiapos-espaços das velas escuras Sorrir é o escape Mando as mágoas aos mares tristes e turbulentos Afrouxo o nó, e me arrasta o tempo Este barranco já me desfez Agora, desfeito ao desgaste das quedas, Desfez-se Atenas seria longo sonho Nessas águas sedentas de ar Sou um lobo e um vulto Pesco os despejos Como quem grita Objetificada Cansada dos restos vitais O grito é pergaminho E repetido, vira prece A quem nascer desses ventres Orientais
*
Encurtamento
Aquele olho fitou-me Despindo-me a alma com os olhos Não era flor, nem cacto Era dureza em primeiro estágio Das flechas, viro alvo Para a destreza dos andares mortos
***
.
Mel Gomes (Ceará, 2004) é cearense, natural de Sobral e radicada em Ubajara. Escritora, poeta, colaboradora do Laboratório Poetisas e uma das idealizadoras do Coletivo Crauá, que reúne artistas de um estado do nordeste brasileiro, o Ceará, seu estado de nascimento e morada. Desde os 14 anos entranha-se no universo poético. Agora, aos 17 anos, vem transformando suas redes sociais em espaço artístico, compartilhando suas doses poéticas no Instagram @d.e.l.a.m.e.l . A poeta também é criadora do blog Desvairada, criado com o sentimento de compartilhar literatura, desaguando poesia para a vida. Além disso, possui um de seus textos publicados no blog A estranhamente, publicou poemas na revista Granuja, do México, e possui um poema integrante da antologia poética de Novos Poetas, Poetize 2021, Seleção Poesia brasileira.
Foto: Jonathan Borba / Pexels
Tumor
Não vou guardar dores na cabeça.
Dor é feita pra curar. E se cura com amor.
Existe amor nos peitos inflamados.
Amores mofados, partidos, sangrados.
Mas, ainda assim, amor.
Não aquele amor mesquinho, nada que acarinhe o ego.
Aquele amor bonito de Senhoras do Sertão, aquele amor-benzinho que te reza sem te saber.
Dor de cabeça aumenta e faz tumor. Amor é simples, mas com rótulo de raro na cabeça dos mecânicos.
Não é mercadoria, nem mesquinharia.
Também não é quebra-queixo.
De doce e dura, basta a batida.
Amor é mole. Pessoas endurecem.
*
Rotas
Maria perdeu-se no caminho
Andou e procurou molhada
Úmida estava a toalha
Absorvendo a quentura do sol
Deixe-me voltar e revirar, José
Há muita trouxa pra lavar
Nenhum tecido me encontra a face
Desconstruir a frase balbuciada é Competência dificílima a quem falta amor
Moro no morro, nas costas do Redentor
E, no entanto, desencontro os ares grã-finos
Conformam-me os fiapos-espaços das velas escuras
Sorrir é o escape
Mando as mágoas aos mares tristes e turbulentos
Afrouxo o nó, e me arrasta o tempo
Este barranco já me desfez
Agora, desfeito ao desgaste das quedas,
Desfez-se
Atenas seria longo sonho
Nessas águas sedentas de ar
Sou um lobo e um vulto
Pesco os despejos
Como quem grita
Objetificada
Cansada dos restos vitais
O grito é pergaminho
E repetido, vira prece
A quem nascer desses ventres
Orientais
*
Encurtamento
Aquele olho fitou-me
Despindo-me a alma com os olhos
Não era flor, nem cacto
Era dureza em primeiro estágio
Das flechas, viro alvo
Para a destreza dos andares mortos
***
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Mel Gomes (Ceará, 2004) é cearense, natural de Sobral e radicada em Ubajara. Escritora, poeta, colaboradora do Laboratório Poetisas e uma das idealizadoras do Coletivo Crauá, que reúne artistas de um estado do nordeste brasileiro, o Ceará, seu estado de nascimento e morada. Desde os 14 anos entranha-se no universo poético. Agora, aos 17 anos, vem transformando suas redes sociais em espaço artístico, compartilhando suas doses poéticas no Instagram @d.e.l.a.m.e.l . A poeta também é criadora do blog Desvairada, criado com o sentimento de compartilhar literatura, desaguando poesia para a vida. Além disso, possui um de seus textos publicados no blog A estranhamente, publicou poemas na revista Granuja, do México, e possui um poema integrante da antologia poética de Novos Poetas, Poetize 2021, Seleção Poesia brasileira.
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