Medo suspeito, devorador de almas. Corre criança, desse pesadelo. Se suspeitar mais um pouco, devoram tuas asas. Corre me disseram, enquanto és livre. Um dia não serás mais apenas desejo de euforia de uma alegria que é triste sufoco engasgado da saudade.
*
Sonhei com os teus olhos esta noite Como espelhos d’água Refletiram o meu rosto vi meu corpo sagrado que despertava correndo selvagem inocente vi a liberdade, o ser e a complexidade de tudo vi os homens que se desfizeram em sangue vi e os espaços de vertigens vi a alma a essência de prata vi Deus se dispersar como qualquer outro acreditando no que não existe.
*
[pra tu] te daria um pouco mais de tempo repousando nos teus braços serenos o canto doce do teu aconchego, Núbia, Mas, há um caos dentro do sossego uma euforia díade certeza do fim, medo do recomeço
te contaria um pouco mais de versos, as narrativas que ouvi ruído grosso dos ventos os contos que soube na infância era uma rainha, minha vó dizia ela corre na chuva, dos trovões, pela floresta
ela nunca retorna, por não saber o caminho ela não pode voltar
ela procura algo que não encontra te cobre meu santo, te cobre se sentes medo da mãe d’água ela é o fim, um dia se sabe
queria te dar a chuva, o banho dela as sensações e a liberdade das águas
queria te dar os caminhos das matas o cheiro ocre e a temperatura tênue entre o frio e o calor a umidade da terra
queria te dar os ventos uma tempestade para voar sem asas pelo hemisfério sul
queria te dar nas mãos o barro úmido das casas que se constroem na Floresta as travessias das pontes pequenas dos córregos em cheia
queria te dar minhas memórias bonitas mas só posso te contar
que em noites de lua descíamos juntos por uma estrada escura vovô dizia que quem alumia cominho, além das lamparinas são as estrelas os guias
cantorias de dias largos ele ia na frente para abrir caminhos cheirava a querosene e colônia
te guia menina, se brincar sozinha volte pelo mesmo caminho que fostes
não te perca na floresta a noite currupira te carrega para o olho das árvores
eu ainda tenho medo de andar sozinha de me perder mas agora em despedida te digo que sigo pelo caminho de onde vim
te guia rainha, se andares sozinha retorne pelo caminho de onde veio
queria te dar um pouco mais de mim, mas nem eu mais me tenho.
***
***
.
Thaisa Viegas de Pinho é ludovicense e mora em São Luís do Maranhão. É mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade e formada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão. Sempre trabalhou com a escrita. Fez parte do site de jornalismo ativista “Sobre o Tatame”, escrevendo sobre a vida e as diferentes formas que o mundo me atravessa. Atualmente é redatora em uma empresa de mídias e segue sempre nessa mesma necessidade de escrever sobre tudo. É compositora e poeta. “Reconheço-me dessa forma porque a poesia me deságua seja em forma de um poema, seja em uma canção, ela sempre nasce e vem para o mundo”. Thaisa é apaixonada pela escrita e é isso que a move todos os dias, saber que tem linhas e linhas de palavras e frases para escrever. A escrita a salva todos os dias!
Imagem: Free-Photos / Pixabay
Medo suspeito,
devorador de almas.
Corre criança, desse pesadelo.
Se suspeitar mais um pouco,
devoram tuas asas.
Corre
me disseram,
enquanto és livre.
Um dia não serás mais
apenas desejo de euforia
de uma alegria que é triste
sufoco engasgado da saudade.
*
Sonhei com os teus olhos esta noite
Como espelhos d’água
Refletiram o meu rosto
vi meu corpo sagrado
que despertava
correndo selvagem
inocente
vi a liberdade, o ser
e a complexidade de tudo
vi os homens que se desfizeram em sangue
vi e os espaços de vertigens
vi a alma
a essência de prata
vi Deus se dispersar como qualquer outro
acreditando no que não existe.
*
[pra tu]
te daria um pouco mais de tempo
repousando nos teus braços serenos
o canto doce do teu aconchego,
Núbia,
Mas,
há um caos dentro do sossego
uma euforia díade
certeza do fim, medo do recomeço
te contaria um pouco mais de versos,
as narrativas que ouvi
ruído grosso dos ventos
os contos que soube na infância
era uma rainha, minha vó dizia
ela corre na chuva, dos trovões, pela floresta
ela nunca retorna, por não saber o caminho
ela não pode voltar
ela procura algo que não encontra
te cobre meu santo, te cobre se sentes medo da mãe d’água
ela é o fim, um dia se sabe
queria te dar a chuva, o banho dela
as sensações e a liberdade das águas
queria te dar os caminhos das matas
o cheiro ocre e a temperatura tênue
entre o frio e o calor
a umidade da terra
queria te dar os ventos
uma tempestade
para voar sem asas pelo hemisfério sul
queria te dar nas mãos o barro úmido
das casas que se constroem na Floresta
as travessias das pontes pequenas
dos córregos em cheia
queria te dar minhas memórias bonitas
mas só posso te contar
que em noites de lua
descíamos juntos por uma estrada escura
vovô dizia que quem alumia cominho,
além das lamparinas
são as estrelas
os guias
cantorias de dias largos
ele ia na frente para abrir caminhos
cheirava a querosene e colônia
te guia menina, se brincar sozinha
volte pelo mesmo caminho que fostes
não te perca na floresta a noite
currupira te carrega
para o olho das árvores
eu ainda tenho medo
de andar sozinha
de me perder
mas agora em despedida
te digo que sigo
pelo caminho de onde vim
te guia rainha, se andares sozinha
retorne pelo caminho de onde veio
queria te dar um pouco mais de mim,
mas nem eu mais me tenho.
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Thaisa Viegas de Pinho é ludovicense e mora em São Luís do Maranhão. É mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade e formada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão. Sempre trabalhou com a escrita. Fez parte do site de jornalismo ativista “Sobre o Tatame”, escrevendo sobre a vida e as diferentes formas que o mundo me atravessa. Atualmente é redatora em uma empresa de mídias e segue sempre nessa mesma necessidade de escrever sobre tudo. É compositora e poeta. “Reconheço-me dessa forma porque a poesia me deságua seja em forma de um poema, seja em uma canção, ela sempre nasce e vem para o mundo”. Thaisa é apaixonada pela escrita e é isso que a move todos os dias, saber que tem linhas e linhas de palavras e frases para escrever. A escrita a salva todos os dias!
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