sonhei o mar em tremor
carregando o meu pólen
erodindo adamastor em liberdade
não sei nadar
e por isso o mar é horror e convite
não sei andar de bicicleta e por isso temo sempre os pés fora do chão
fui uma criança triste nas quinas do mundo
existindo apenas nos cantos dos olhos que é onde fica o não visto
como um silêncio que se esquece ao correr
e por isso o meu pólen
que o mar levou
era apenas mais uma
sentença
2.
o momento mais limpo é quando lambo as curvas dos teus dentes
por dentro e por trás
onde se guarda o rancor
arranco das frestas a culpa nas palmas e a memória dos castigos
o momento mais limpo
é quando invado tua boca para lavá-la
com as pontas da minha língua
cheia de vontades que não se falam na igreja
a minha língua foi desenhada pelas eras
apenas para o gosto das coisas curvas e quase líquidas
que não se pintam nos quadros de santos
tenta nos teus dentes
como trombeta e última sirene:
silêncio, é hora do risco!
estamos longe da primeira esfera
que é pura e fria e não bebeu do sangue
e por isso faz calor
no proibido
é hora do risco!
o momento mais limpo é o das carnes que queima
.
Milena Martins Moura é mestre em literatura brasileira e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (2011), Os Oráculos dos meus Óculos (2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021, no prelo). Integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia e de colunistas da revista Tamarina Literária. Publica suas produções em diversas esferas artísticas no Instagram @oraculos_dos_oculos.
Imagem: Free-Photos / Pixabay
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Milena Martins Moura é mestre em literatura brasileira e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (2011), Os Oráculos dos meus Óculos (2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021, no prelo). Integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia e de colunistas da revista Tamarina Literária. Publica suas produções em diversas esferas artísticas no Instagram @oraculos_dos_oculos.
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