li em algum lugar, amassado e em preto&branco, que sonetos foram ditos por uma criança que ainda não falava e sim fazia sonetos, pequenos sopros baldios. Fazia um dito ainda nunca dito. Outros já disseram que quem os ouviam pensou que aquilo antes então existisse e, no entanto, era uma vez sem nome, ainda sem palavra, só os ruídos, os mínimos.
queria fazer uma criança uma criança de barro
vi em algum museu do velho mundo e em tamanho natural que crianças foram feitas por amor, um amor que não precisava das palavras, mas sim feitas com as palmas leves e as mãos em mi menor, mas, já disseram que quando apareceu outros acharam que aquilo antes então já vivesse e, no entanto, era ainda sem vontade, só a matéria imersa, a menor sustenida.
Tesouros-Besouros
Por Bárbara Mol – Novembro / 2020
Eu gostaria de não esquecer de dizer as coisas que penso quando acordo. Elas me parecem tesouros insurgentes, muito quentes pra eu segurar sozinha.
A verdade é que quase sempre esqueço. Não exatamente das coisas, esqueço, pois é de que baú eles vieram, como eu os encontrei mesmo?
De vez em quando, me sinto ladra com essas peças na minha cabeça e, então, escrevo para que elas encontrem uma extravia, de ida e de volta. Elas me parecem prontas, muito distraídas para eu tomar conta sozinha.
Fico lamentosa se os perco entre outros pensamentos despertos. A verdade é que sonho com os olhos muito abertos, tão abertos que deixo eles partirem. A questão é que hoje guardei um besouro pra você.
***
.
Bárbara Mol [1986-] é ouropretana (MG), artista visual e pesquisadora em arte contemporânea pela UFMG. Desenvolve projetos autorais em diálogo com o pensamento da Filosofia, da Sociologia e da Literatura, em especial, conduzidos por mulheres. Trabalha com a criação plástica, reflexiva, crítica e sensível de imagens e palavras, em especial, a escrita de poemas e contos.
Imagem de Erdenebayar Bayansan por Pixabay
Soneto em mi menor
Por Bárbara Mol – Novembro / 2020
queria fazer um soneto
um soneto de amor
li em algum lugar, amassado e em preto&branco, que sonetos foram ditos por uma criança que ainda não falava e sim fazia sonetos, pequenos sopros baldios. Fazia um dito ainda nunca dito. Outros já disseram que quem os ouviam pensou que aquilo antes então existisse e, no entanto, era uma vez sem nome, ainda sem palavra, só os ruídos, os mínimos.
queria fazer uma criança
uma criança de barro
vi em algum museu do velho mundo e em tamanho natural que crianças foram feitas por amor, um amor que não precisava das palavras, mas sim feitas com as palmas leves e as mãos em mi menor, mas, já disseram que quando apareceu outros acharam que aquilo antes então já vivesse e, no entanto, era ainda sem vontade, só a matéria imersa, a menor sustenida.
Tesouros-Besouros
Por Bárbara Mol – Novembro / 2020
Eu gostaria de não esquecer de dizer as coisas que penso quando acordo.
Elas me parecem tesouros insurgentes, muito quentes pra eu segurar sozinha.
A verdade é que quase sempre esqueço. Não exatamente das coisas, esqueço, pois é de que baú eles vieram, como eu os encontrei mesmo?
De vez em quando, me sinto ladra com essas peças na minha cabeça e, então, escrevo para que elas encontrem uma extravia, de ida e de volta.
Elas me parecem prontas, muito distraídas para eu tomar conta sozinha.
Fico lamentosa se os perco entre outros pensamentos despertos.
A verdade é que sonho com os olhos muito abertos, tão abertos que deixo eles partirem. A questão é que hoje guardei um besouro pra você.
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Bárbara Mol [1986-] é ouropretana (MG), artista visual e pesquisadora em arte contemporânea pela UFMG. Desenvolve projetos autorais em diálogo com o pensamento da Filosofia, da Sociologia e da Literatura, em especial, conduzidos por mulheres. Trabalha com a criação plástica, reflexiva, crítica e sensível de imagens e palavras, em especial, a escrita de poemas e contos.
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