cada um em seu deserto num quarto deserto num amor deserto num país deserto procurando a fonte as fontes os frontes reza a lenda que estamos sempre com sede.
do alto
quero cair de paraquedas no teu peito meio ferida, eu sei meio atrasada também com medo de altura de mãos vazias descabelada e inteira.
mas meu plano é só o voo.
Te disse
te disse faço um pacto me caso, te dou um filho cozinho e passo.
te disse dorme tranquilo dentro de mim eu mudo de espaço, enfrento o espelho, paro meus vícios.
te disse nunca mais coca cola busco as crianças na escola trabalho o dia inteiro e pela noite ainda estarei contente
te disse que era essa a nossa era que era esse nosso esconderijo
te disse que amaria para sempre a gente junto com ciúmes um do outro
te disse tanto e não cumpri não quis te traí
cê disse que eu não tô nem aí eu disse que amar não adianta
amar não adianta nada quando você precisa cumprir deveres, dizeres e moedas de troca.
olhai por nós
nós, os miseráveis por dinheiro os vencedores da vida os imbecis de verde amarelo os compactos os pequenos homens brancos os privilegiados em suas cobertas os negligentes os pastores as submissas os palestrinhas olhai por nós, por eles olhai, meu Deus pela elite tanto precisada pelo presidente zumbi pelas mulheres normais olhai pelas normas pelo correto olhai, meu Deus para quem pode te pagar.
***
.
Isabella Ingra (1993) é poeta, escrivinhadora de palavras, atriz quando convém, mãe e feminista. Nascida em Brasília e no mundo todo.
Imagem: Pexels
deserto
cada um em seu deserto
num quarto deserto
num amor deserto
num país deserto
procurando a fonte
as fontes
os frontes
reza a lenda que estamos sempre
com sede.
do alto
quero cair de paraquedas
no teu peito
meio ferida, eu sei
meio atrasada também
com medo de altura
de mãos vazias
descabelada
e inteira.
mas meu plano é só o voo.
Te disse
te disse
faço um pacto
me caso, te dou um filho
cozinho e passo.
te disse
dorme tranquilo dentro de mim
eu mudo de espaço, enfrento o espelho,
paro meus vícios.
te disse
nunca mais coca cola
busco as crianças na escola
trabalho o dia inteiro
e pela noite ainda estarei contente
te disse
que era essa a nossa era
que era esse nosso esconderijo
te disse
que amaria para sempre
a gente junto
com ciúmes um do outro
te disse
tanto e não cumpri
não quis
te traí
cê disse que eu não tô nem aí
eu disse que amar não adianta
amar não adianta nada
quando você precisa
cumprir deveres, dizeres e moedas de troca.
olhai por nós
nós,
os miseráveis por dinheiro
os vencedores da vida
os imbecis de verde amarelo
os compactos
os pequenos homens brancos
os privilegiados em suas cobertas
os negligentes
os pastores
as submissas
os palestrinhas
olhai por nós,
por eles
olhai, meu Deus
pela elite tanto precisada
pelo presidente zumbi
pelas mulheres normais
olhai pelas normas
pelo correto
olhai, meu Deus
para quem pode te pagar.
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Isabella Ingra (1993) é poeta, escrivinhadora de palavras, atriz quando convém, mãe e feminista. Nascida em Brasília e no mundo todo.
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