trago um pássaro morto entre os dentes. eu o deposito a teus pés como um presente e em teus olhos pálidos vejo : não é o que esperavas. as asas manchadas. pupilas congeladas. o fio de sangue entre as gengivas. não, não é o que esperavas. mas trarei outros, de novo e de novo até que possas ver, no corpo morto o bote. o salto o vôo
*
chamada de jornal
ninguém a matou ela é que morreu foi encontrada morta em seu apartamento
ele não a estrangulou não montou sobre ela na cama e quando viu já estava feito
ela é que morreu e seu corpo tinha sinais de violência e os vizinhos chamaram a polícia dois dias depois quando sentiram o cheiro
ele não matou no máximo confessou o crime chorou, tentou o suicídio com veneno de rato sem efeito
ela, ela disse que queria vê-lo morto ela não o deixava ver as mensagens no celular
ele se mostrou arrependido chorou e pediu para que sua família e a dela o perdoassem
ele não a matou ela é que morreu foi encontrada morta em seu apartamento
***
.
Jeanne Callegari (Uberaba/MG, 1981) é poeta, jornalista e produtora cultural. Publicou os livros Amor eterno 2 (Garupa e Pitomba!, 2019), Botões (Corsário-Satã, 2018) e Miolos frescos (Patuá, 2015), todos de poemas, e Caio Fernando Abreu: inventário de um escritor irremediável (Seoman, 2008), perfil biográfico do autor gaúcho. Em suas performances ao vivo, trabalha com os cruzamentos entre palavra, voz, ruídos e paisagens sonoras. É curadora, organizadora e poeta residente da Macrofonia!, noite de poesia e audiovisual ao vivo, realizada em São Paulo desde 2017. Foto: Liliane Callegari.
Foto: Noell Oszvald
a teus pés
trago um pássaro morto entre os dentes.
eu o deposito a teus pés
como um presente
e em teus olhos pálidos vejo
: não é o que esperavas.
as asas manchadas. pupilas congeladas.
o fio de sangue entre as gengivas.
não, não é o que esperavas.
mas trarei outros, de novo e de novo
até que possas ver, no corpo morto
o bote. o salto
o vôo
*
chamada de jornal
ninguém a matou
ela é que morreu
foi encontrada morta
em seu apartamento
ele não a estrangulou
não montou sobre ela na cama
e quando viu
já estava feito
ela é que morreu
e seu corpo tinha sinais
de violência
e os vizinhos chamaram a polícia
dois dias depois
quando sentiram o cheiro
ele não matou
no máximo confessou o crime
chorou, tentou o suicídio
com veneno de rato
sem efeito
ela, ela disse que queria vê-lo morto
ela não o deixava ver as mensagens
no celular
ele se mostrou arrependido
chorou e pediu para que sua família
e a dela o perdoassem
ele não a matou
ela é que morreu
foi encontrada morta
em seu apartamento
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Jeanne Callegari (Uberaba/MG, 1981) é poeta, jornalista e produtora cultural. Publicou os livros Amor eterno 2 (Garupa e Pitomba!, 2019), Botões (Corsário-Satã, 2018) e Miolos frescos (Patuá, 2015), todos de poemas, e Caio Fernando Abreu: inventário de um escritor irremediável (Seoman, 2008), perfil biográfico do autor gaúcho. Em suas performances ao vivo, trabalha com os cruzamentos entre palavra, voz, ruídos e paisagens sonoras. É curadora, organizadora e poeta residente da Macrofonia!, noite de poesia e audiovisual ao vivo, realizada em São Paulo desde 2017. Foto: Liliane Callegari.
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