estávamos ainda ontem falando sobre ir ao bar e hoje acordamos para outro céu outra cidade as coisas pequenas ou grandes rindo de nossos planos amanhã não será diferente teremos ainda que levantar da cama teremos ainda que tecer projetos sonhos de operário vislumbres cultivar ao menos um segredo sem relevância derramar silêncio pelas janelas fabricar tardes como quem joga dados organizar gavetas com papéis grampos canetas reconhecer que nem sempre estará presente o glitter o alarido e ainda assim teremos que chamar isto de vida apenas vida ainda assim alguma coisa se apresentará salto de fé entidade a revolução comunista alguma coisa deve vir tão bonita que amanhã tampouco teremos escolha ao final do dia pensaremos sobre o mergulho que vem sendo nascer
*
se você quiser eu também posso ser bélico eu também posso me enfiar nas trincheiras eu também posso levantar barricadas afiar as baionetas calibrar a mira das armas de fogo arremessar explosivos na direção dos rostos inimigos pilotar tanques caminhonetes aviões puxar gatilhos
se você quiser eu também sei endereçar a morte eu também sei de lugares que poderiam ser chamados terra de ninguém sei como narram as estatísticas histórias de genocídio sei que há sofrimento e indiferença neste mundo para dar e vender e que poderíamos estar reinaugurando guilhotinas e que desilusões espreitam e botas tratores fuzis punhos se encarregam continuamente de violar o brilho das vidas em resistência
se você quiser eu também posso ser muito duro muito realista eu também posso ser outro cronista do apocalipse também posso ser um corpo cartesiano também posso medir os dias com instrumentos de minha prepotência salgar as noites com vazios de minha indiferença eu também posso ser aquele que não está rindo enquanto todos à sua volta gargalham ou aquele que enxerga a inutilidade de todas as coisas aquele que sabe muito mais do que a maioria das pessoas ignorantes que habitam à sua volta levando suas vidinhas de pessoas comuns posso ser aquele que jamais beberia uma xícara de café após as oito horas da noite
mas então você será responsável por dizer as palavras da minha boca movimentar minha língua já acostumada a hospedar a vida possível
***
.
Daniel Grimoni (1999) é poeta, contista, professor e estudante de Letras na UNIRIO. É autor de “Todo (o) corpo agora” (2019), livro de poesia. Já foi publicado em revistas como Gueto, Ruído Manifesto e Mafagafo e em coletâneas de contos e poesia. Cultiva silêncios e vislumbres.
estávamos ainda ontem falando sobre
ir ao bar e hoje acordamos para
outro céu outra cidade
as coisas pequenas ou grandes
rindo de nossos planos
amanhã não será diferente
teremos ainda que levantar da
cama teremos ainda que tecer projetos
sonhos de operário vislumbres
cultivar ao menos um segredo
sem relevância derramar silêncio
pelas janelas fabricar tardes como quem
joga dados organizar gavetas com papéis
grampos canetas reconhecer que nem sempre
estará presente o glitter o alarido e ainda assim
teremos que chamar isto de vida apenas vida
ainda assim alguma coisa se apresentará
salto de fé entidade a revolução comunista
alguma coisa deve vir tão bonita
que amanhã tampouco teremos escolha
ao final do dia pensaremos
sobre o mergulho que vem sendo nascer
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se você quiser eu também
posso ser bélico
eu também posso me enfiar nas trincheiras eu
também posso levantar barricadas afiar
as baionetas calibrar a mira das
armas de fogo arremessar explosivos
na direção dos rostos
inimigos pilotar tanques caminhonetes
aviões puxar gatilhos
se você quiser eu também sei
endereçar a morte
eu também sei de lugares que
poderiam ser chamados terra de
ninguém sei como narram as estatísticas
histórias de genocídio sei que
há sofrimento e indiferença neste
mundo para dar e vender e
que poderíamos estar
reinaugurando guilhotinas e
que desilusões espreitam e botas
tratores fuzis punhos se encarregam
continuamente de violar o brilho
das vidas em resistência
se você quiser eu também posso
ser muito duro muito realista
eu também posso ser outro
cronista do apocalipse também posso
ser um corpo cartesiano também posso
medir os dias com instrumentos de minha
prepotência salgar as noites com
vazios de minha indiferença eu também
posso ser aquele que não está rindo
enquanto todos à sua volta
gargalham ou aquele que enxerga a inutilidade
de todas as coisas aquele que sabe muito
mais do que a maioria das
pessoas ignorantes que habitam à
sua volta levando suas vidinhas
de pessoas comuns posso ser aquele que jamais
beberia uma xícara de café após
as oito horas da noite
mas então você será responsável
por dizer as palavras da minha boca
movimentar minha língua já acostumada
a hospedar a vida possível
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Daniel Grimoni (1999) é poeta, contista, professor e estudante de Letras na UNIRIO. É autor de “Todo (o) corpo agora” (2019), livro de poesia. Já foi publicado em revistas como Gueto, Ruído Manifesto e Mafagafo e em coletâneas de contos e poesia. Cultiva silêncios e vislumbres.
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