Imagem da série Space 2, Providence, Rhode Island, 1976. Francesca Woodman.
1- nosso
era como abrir a janela e enfrentar uma parede era como me sentir boba diante das minhas utopias, eu que sempre quis me sentir grande. era como derrubar leite quente nas minhas pernas – quando eu era criança, sempre acontecia e eu nunca entendia por que te amar era como derrubar leite quente nas minhas pernas – como morder um biscoito murcho, como acariciar lenha, como sustentar um vício. nosso último diálogo foi: eu te amo, se cuida. “Se cuida” significa: olha pro copo de leite, segure-o, deixe o leite amornar, assopre até que ele perca a graça e não beba mais dele.
2 – a terra prometida
Eu sei, nós todos somos filhos do barulho, da conversa, das pernas andando na frente das pernas, do abraço antes do abraço, do beijo de línguas perdidas – mas olha, um instante, esse mapa sem rota, vazio, sem ilhas, sem direção. olha esse mapa, não há nada, só silêncio, belchior de fundo, tudo que a gente sabe indo por água abaixo – chegamos no ápice e não há nada a ser dito.
3- pra ser brega e assim: total eclipse.
O coração está dolorido mas está longe longe de não querer mais aquilo que o machuca longe de não querer conquistar novas épocas longe de esquecer, de querer esquecer longe de abandonar a revolta de acordar domingo longe de se neutralizar
o amor. o amor não se neutraliza.
***
Isabella Ingra (1993) é poeta, escrivinhadora de palavras, atriz quando convém, mãe e feminista. Nascida em Brasília e no mundo todo.
Imagem da série Space 2, Providence, Rhode Island, 1976. Francesca Woodman.
1- nosso
era como abrir a janela e enfrentar uma parede
era como me sentir boba diante das minhas utopias, eu que sempre quis me sentir grande.
era como derrubar leite quente nas minhas pernas – quando eu era criança, sempre acontecia e eu nunca entendia por que
te amar era como derrubar leite quente nas minhas pernas – como morder um biscoito murcho, como acariciar lenha, como sustentar um vício.
nosso último diálogo foi: eu te amo, se cuida.
“Se cuida” significa: olha pro copo de leite, segure-o, deixe o leite amornar, assopre até que ele perca a graça e não beba mais dele.
2 – a terra prometida
Eu sei, nós todos somos filhos do barulho, da conversa, das pernas andando na frente das pernas, do abraço antes do abraço, do beijo de línguas perdidas – mas olha, um instante, esse mapa sem rota, vazio, sem ilhas, sem direção.
olha esse mapa, não há nada, só silêncio, belchior de fundo, tudo que a gente sabe indo por água abaixo – chegamos no ápice e não há nada a ser dito.
3- pra ser brega e assim: total eclipse.
O coração está dolorido
mas está longe
longe de não querer mais aquilo que o machuca
longe de não querer conquistar novas épocas
longe de esquecer, de querer esquecer
longe de abandonar a revolta de acordar domingo
longe de se neutralizar
o amor. o amor não se neutraliza.
***
Isabella Ingra (1993) é poeta, escrivinhadora de palavras, atriz quando convém, mãe e feminista. Nascida em Brasília e no mundo todo.
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