O que se escreve é o espaço não entre a primavera e o inverno mas esse espaço entre as mãos e o mundo razoavelmente concreto o que se escreve é a distância a medida esse cálculo feito em palavras entradas cuidadosamente em cada fenda um espaço entre o eu e o mundo é o que se escreve como também o tempo não entre um século e outro século mas o tempo de um dia comum e os sapatos nele apoiados para ir ao jardim ou à padaria é simples o que se escreve e esse encontro é bastante imediato também basta abrir os olhos quando estou em silêncio posso garantir que é simples isso que sempre pode ser levado pelo vento não fosse o trabalho das mãos desgarrando as imagens de cada poema para não morrer de abstração o que se escreve é simples.
*
Para congelar frutas por exemplo as peras devem ser colhidas entre 25 de setembro e 15 de outubro se falamos de países em regiões frias as peras podem ser guardadas em armazéns ou depósitos, dependerá do tipo de pera e da maduração que se deseja a colheita será também definida pelas estações se são peras de outono, inverno ou primavera as peras de verão são colhidas geralmente quentes e estão muito delicadas até mesmo durante a escrita desse poema em pleno inverno é possível entender a fragilidade das frutas em altas temperaturas e a necessidade de resguardá-las como tão só essa simples citação das peras de verão por alguma razão da própria linguagem podem ser percebidas dissolvendo-se sem nenhum abrigo na soltura das palavras.
***
Maíra Vasconcelos, escritora e jornalista, de Belo Horizonte. Escreve crônicas, desde 2014, para o Jornal GGN. Um quarto que fala (Editora Urutau, 2018) é seu primeiro livro de poemas. Reside em Buenos Aires, e é aluna do mestrado em Estudos Literários, na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (UBA).
O que se escreve é o espaço
não entre a primavera e o inverno
mas esse espaço entre as mãos
e o mundo razoavelmente concreto
o que se escreve é a distância a medida
esse cálculo feito em palavras
entradas cuidadosamente em cada fenda
um espaço entre o eu e o mundo
é o que se escreve como também o tempo
não entre um século e outro século
mas o tempo de um dia comum
e os sapatos nele apoiados
para ir ao jardim ou à padaria
é simples o que se escreve
e esse encontro é bastante imediato também
basta abrir os olhos quando estou em silêncio
posso garantir que é simples
isso que sempre pode ser levado pelo vento
não fosse o trabalho das mãos
desgarrando as imagens de cada poema
para não morrer de abstração
o que se escreve é simples.
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Para congelar frutas
por exemplo as peras devem ser colhidas
entre 25 de setembro e 15 de outubro
se falamos de países em regiões frias
as peras podem ser guardadas em armazéns
ou depósitos, dependerá do tipo de pera
e da maduração que se deseja
a colheita será também definida pelas estações
se são peras de outono, inverno ou primavera
as peras de verão são colhidas geralmente quentes
e estão muito delicadas
até mesmo durante a escrita desse poema
em pleno inverno é possível
entender a fragilidade das frutas em altas temperaturas
e a necessidade de resguardá-las
como tão só essa simples citação das peras de verão
por alguma razão da própria linguagem
podem ser percebidas dissolvendo-se
sem nenhum abrigo na soltura das palavras.
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Maíra Vasconcelos, escritora e jornalista, de Belo Horizonte. Escreve crônicas, desde 2014, para o Jornal GGN. Um quarto que fala (Editora Urutau, 2018) é seu primeiro livro de poemas. Reside em Buenos Aires, e é aluna do mestrado em Estudos Literários, na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (UBA).
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